sexta-feira, 2 de outubro de 2009

“O que toca seu iPod, o que toca seu coração?”



Essa era uma pergunta simples, mas que o fez fechar a boca e abrir um baú de lembranças. Teobaldo não tinha essa resposta. Sempre tocara sua vida para os estudos, pelos estudos e para se dar bem. Sabia geologia, comia gramática, vomitava logaritmos e agora essa pergunta? Isso não estava no gibi, nas provas da tia Leda nem no telecurso 2000.

Lembrou-se de uma vez em que caminhava pelos corredores do colégio contando os passos, analisando os graus, somando os dividendos, calculando a área de cada passo, o cúbico de cada azulejo. E naquela época, se alguém lhe perguntasse, g não era igual a 10 m/s² e nem Pi era igual a só 3,14. Diminuía logo o g para 9,80665 m/s² e aumentava o Pi para 3,1415926535897932384626433832795.

Agora tinha chegado a hora e sabia que seria de grande valia não hesitar. Sempre soube o top 10 da rádio, sabia o que se passava na TV, e o que tocava as pessoas daqui: Funk, Sertanejo, Pagode. Eca. Sempre resolvera as dúvidas de todos os colegas, sempre muito solícito. Era como se ele estivesse na beira de um abismo, com todas as ferramentas, todos os conhecimentos mas sem o ritmo que faz seus glóbulos vermelhos sambarem. Ele tinha toda uma orquestra com os melhores músicos, os melhores baixistas, solistas e outros “istas”, mas não sabia como mexer os pauzinhos. Malditos pauzinhos.

Teobaldo olhou para Gláucia, que aguardava ansiosa por mais uma resposta. Deu dó. Em seguida saiu um sol. Desafinado com as métricas e as regras, afinado com seu peito, tocou.